segunda-feira, novembro 22, 2010

Prêmio Dardos

Este Honórável Blog recebeu pela Incrível Marie do também incrível blog Literatura e Gostosuras  um selo do  Prêmio  Dardos. Eu fiquei muito animado, quando comecei este blog eu só queria eternizar as poesias patetas que eu guardava no meu caderno velho e foi crescendo junto comigo, ganhando mais conteúdo, ficando mais denso, agora que ganhei o primeiro selo posso fazer de tudo, posso até dominar o mundo, um Post de cada vez.



Segue a proposta da homenagem:
"Prêmio Dardos é o reconhecimento dos ideais que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc... que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, e suas palavras.”

A seguir os Blogs que eu indico pro Selo 

Fla http://covildafla.blogspot.com/


Valeu a você que lê essas besteiras e Valeu Marie, te devo mais uma hauahuahu

domingo, novembro 21, 2010

Ícaro e o sol

Uma figura cabisbaixa vencia lentamente as dunas de areia areia da cor do sangue da estrela que morria mais uma vez, levou várias horas naquela caminhada, o dia inteiro se arrastando pelo deserto, desde que, enquanto observava o céu da noite e se dedicava a  contar a idade dos cometas, sentiu no seu ouvido surgir  o silêncio explosivo que o  sol  produz ao nascer.

-Está tudo parado... - Sussurrou, assustado, quando ouviu da primeira vez, há muito tempo, mais do que alguém possa contar.

Ícaro vagava sem olhar para frente, encarava os próprios pés que caminharam mais passos que o número de folhas em todas as florestas, carregava comida nem bebida, não precisava mais de nada para viver além da sua própria vontade, levava somente uma cítara amarrada ás costas e uma velha bolsa que exalava um cheiro doce de canela, seguia para o horizonte há muito tempo buscando o limite do mundo, onde se desenha a linha do horizonte, se orientando pelas lamúrias e pelo calor que o sol na febre da morte produzia,   aprendera, quando o mundo ainda era novo, que o sol como tudo que é naturalmente vivo eventualmente morre. 

-Escute não com seus ouvidos, mas como um todo, pois esta é a ultima vez.

Seu professor foi um homem, um dos primeiros, que foram perecendo conforme o mundo se expandia e degradava, seu nome era o que hoje pode ser traduzido como "o que espera"  já era muito velho quando Ícaro o conheceu, vivia  junto com as nuvens, no monte que toca o céu, lá ensinou a ler o vento,  sentir a água, falar com a terra e a ouvir o fogo, falava sobre a natureza do universo, que esse era muito antigo, era anterior ao próprio tempo, mas antes do tempo existir o universo era parado, estático, morto.

-O tempo começou com o movimento. 

Falou o professor enquanto olhava as nuvens.

- O tempo começou quando o universo começou sua primeira respiração.

Caminhava olhando para o alto, distraido pelo movimento do mundo, não precisava olhar o caminho, ambos já se conheciam muito bem, Ícaro seguia atrás, buscando naquilo significado.

- Uma respiração longa, longuíssima, ainda estamos na inspiração, quando o universo se enche, cresce, e frutifica a cada gota de chuva, cada estalo de um galho pisado, é tudo maior que antes é tudo mais vivo, mais sólido a cada segundo passado, eu faço parte desse mundo de natureza ascendente, o crescimento dele é o meu crescimento e evidentemente sua morte é a minha morte também, vai haver um tempo, depois do meu tempo, onde a ordem das coisas se alterará, ao invés de crescer elas encolherão, ao invés de viver morrerão, serão mais secas, finas e etéreas a cada novo momento, o universo vai ficar mais frio e morto até que a respiração termine, e com ela acabe o tempo, haverá um tempo depois do tempo, mas nem meus olhos e nem seus olhos poderão ver a natureza desse novo tempo, porque não pertencemos a ele, só conhecemos o que podemos conhecer, vida e morte, inspiração e expiração, são dois lados da mesma moeda, dois polos dos mesmo lugar, um completa o outro, sem um, o outro não tem significado.

Quando chegou ao fim do caminho, se depararam com um grande mar branco  feito das nuvens que rodeavam o monte, "aquele que espera" se virou e olhou Ícaro, sorriu e falou:

-Quando quiser conhecer sobre a natureza da vida, você precisa conhecer primeiro sobre a natureza da morte

E se foi, sumiu dentro das nuvens, para não ser visto nunca mais por nenhum par de olhos novamente

Quando Ícaro  deixou o monte que toca o céu ele decidiu iniciar sua peregrinação em busca da natureza da vida e da morte afim de compreender a natureza do universo em si, conheceu os mitos sobre como surgiu a vida e a morte no mundo, buscou cada significado cada palavra que pudesse explicar, cada história e por fim conheceu a mais antiga delas, a história da vida e da morte do sol

Foi de uma criança que Ícaro conheceu a historia sobre a vida e a morte do sol,depois de muitos anos, quando o mundo havia mudado e havia agora um novo tipo de homem, aconteceu  quando passava por uma cidade que só havia o sol seis meses por ano, foi nos dias de noite, enquanto caminhava nos próprios pensamentos que Ícaro ouviu  uma menina com olhos cor de mel enquanto penteava os cabelos de uma boneca feita de pano que recitava distraída essa canção a muito esquecida pelas pessoas do mundo 

-Gira gira, gira mundo que do escuro profundo o sol vai acordar, vai esquentar o ar com seu choro de vida, vai ficar lá em cima de tudo vai esquentar todo o mundo e depois desabar, vai morrer devagar até apagar e a noite surgir para fazer a vida sumir para fazer o mundo girar

Ícaro não velho mas não mais jovem decidiu então perseguir o sol, estudar o seu nascimento e sua morte e entender sobre a sua natureza, não queria simplesmente observar o nascer e o por do sol. mas conhecer sua origem e seu fim, foi até o seu berço, o seu lugar de nascimento, onde o primeiro raio toca a primeira folha.


Passou anos pesquisando e todas as fontes apontaram o mesmo lugar, o maior monte do mundo, que fica no extremo oriente, Ícaro foi até la, e levou presentes para oferecer ao sol nascente, levou erva de fumo e fogos de artifício feitos por um povo antigo e sábio na dominação do fogo, Ícaro demorou doze meses pra chegar ao topo do monte, calculou sua viagem para sua chegada coincidir com o dia em que o sol nasce mais devagar, queria ter tempo para observar todas os detalhes que pudessem ser úteis na sua ponderação sobre a natureza do universo. quando chegou a hora ele estava lá. sentou no topo do monte, retirou a erva de fumo e um cachimbo pequeno da bolsa e fumou enquanto o sol saia da noite, Ícaro sentiu mais uma vez o som do silêncio profundo, como se todo o mundo parasse pra observar o sol revivendo, durante aquele minuto tudo ficou mudo, calado, o sol apareceu acanhado e esticou o seu primeiro raio que atingiu Ícaro no centro da   sua testa. e ele entendeu, ele viu, ele soube finalmente sobre o sentido da vida.


-Então é isso...-Falou abismado sorrindo


E então ria, gargalhava como uma criança no topo da montanha solitária, só quando o sol já tinha se posto novamente é que ele parou de rir, acendeu os fogos e ficou observando eles explodirem, quando não tinha mais nada a ser queimado e a erva de fumo tinha terminado ele deixou o monte, com metade da sua resposta, já conhecia o sentido da vida mas para compreende-lo precisava conhecer a morte, e partiu buscando o lugar da morte do sol. onde seu último raio toca o mundo.


-É quase o tempo certo... -Falou enquanto o sol morria mais uma vez


-Ícaro já seguia agora a anos no deserto, desde que ele deixou o monte onde o sol nasce procurou em todos as bibliotecas, relicários, nas paredes de templos antigos, nas canções que os monges entoavam até entrar em transe, mas foi em um pequeno cemitério, quase invisível entre dois grandes prédios, em uma cidade enorme onde as pessoas se ignoram e só caminham sem olhar para os lados que ele encontrou seu caminho, embaixo de muitas folhas e galhos um túmulo jazia abandonado, com um mármore branco encardido e estas palavras escritas em granito negro: "meu corpo parou e minha alma voou para o fim do mundo foi para onde o sol parte foi para onde o tempo não mais corre se foi, para onde tudo que vive morre"


-Onde tudo que vive morre...


O fim das dunas era o sinal que ele finalmente havia conseguido deixar o deserto, era meio dia ainda o sol ainda reinava forte, o chão foi deixando lentamente a areia, passando a ser uma de pedra escura e fria, no fim desse caminho estava o enorme precipício o limite do mundo onde o dia e noite se dividem, no céu, com o tom dourado que o sol lhe dava, Ícaro via todas as almas que partiam transformadas em linhas prateadas, elas dançavam como fumaça, e estavam paradas esperando o sol se por.


O sol começou a cair, Ícaro se sentou á beira do abismo, retira da bolsa incenso de canela e deixa ele queimar, apanha a cítara e toca num ritmo lento, deixando o ar se encher com a fumaça perfumada e a musica sobrenatural, o sol vai caminhando lento e começa a entrar no abismo, as almas que antes esperavam agora o seguem e fazem seu funeral uma multidão prateada seguindo um gigante de fogo, a cada nova nota os dedos de Ícaro vão se enfraquecendo, o incenso vai chegando ao fim, o som da cítara  vai se perdendo, ficando mais  distante até que no último instante, quando o ultimo raio o toca nos olhos, Ícaro para de tocar, ele chora um choro sem lágrimas, seu desespero é silencioso mas não menos intenso, não há menos sofrimento só há respeito pelo astro morto.


-Tão triste e tão lindo... 


O homem que perseguiu o sol agora não teve mais motivo pelo qual viver, tinha seu objetivo cumprido, tinha finalmente  compreendido, e chegado ao fim do seu tempo, quando o  último raio deixou seus olhos levou com ele a sua luza cabeça frágil do homem velho tombou levemente de lado, ele morreu levemente sorrindo, pela sua orelha saiu uma linha dourada de fumaça ela subiu alto como se reconhecesse esse nova natureza, como se nascesse para um novo mundo e foi seguindo atrás da multidão prateada, atrás do sol sepultado, deixando para trás essa antiga existência em direção a esse novo infinito desconhecido