sábado, janeiro 29, 2011

desabamento em belém

Eu tirei essa foto ontem à noite para testar a minha câmera,   é a vista da minha janela, na seta o prédio que desabou

A mesma vista HOJE o prédio se foi 

sexta-feira, janeiro 28, 2011

Por trás do espelho Capitulo 1 parte 4

Eduardo desce do ônibus no ponto da praça Presidente , anda exatamente 586 metros na rua repleta de gigantes de concreto armado até o prédio onde trabalha, Arranha céu onde a sede administrativa de um grande banco, sempre que chega Eduardo cumprimenta o zelador, Haroldo, Sessenta anos,tem cinco filhos, uma filha, e vicio em apostas, Haroldo perdeu tudo no baralho à 2 anos e ainda trabalha até hoje para poder pagar a dívida que fez com um bicheiro dito amigo, Eduardo sobe até o quinto andar, sempre pela escada, são 145 degraus, 603 passos da rua até o cubículo, com a placa padronizada “E. Cardoso/T.I” todos os dias Eduardo senta-se à mesa e resolve problemas de informática que qualquer criança de doze anos e sem amigos de solucionaria em dois minutos, o emprego é um tédio, mas compensa, o salário não é muito mas paga as contas, e por algum motivo estranho Eduardo pensa que aquele é um emprego que ele precisa manter então ele não reclama.
-É só continuar-Recita como um mantra
No quinto andar, departamento de Técnicos de Informática trabalham com Eduardo Três pessoas, Sandra, 25 anos, tem uma namorada dentista, mas ninguém no seu emprego sabe sobre isso, Sérgio, 40 anos, não possui namorada alguma, e Caio, chefe do departamento, 23 anos, pensa que é o melhor amigo de Eduardo, passa grande parte do horário de trabalho matando tempo entre pornografia, sites sobre jogos, e mandando coisas bizarras para as outras pessoas.
-Cadê o Caio?, aquele Puto me mandou uma foto macabra de um cara morto, comecei meu dia muito bem!
Eduardo atira a mochila sobre seu cubículo
-Ele não apareceu ainda, mas deve tá chegando ai, ele não costuma se atrasar, e bom dia pra você também tá?
Sandra lhe oferece uma caneca com café, ele aceita, mas coloca mais açúcar.
-Ah, desculpa Sandra, bom dia, e ai Sérgio, beleza?
Sérgio já digita copiosamente no seu cubículo.
-Olá.
Ele responde sem tirar os olhos do monitor.
-Encantador..., o cara parece um robô...
-Ah deixa o cara Edu, ele só tem isso na vida, ao menos tem que fazer direito!
-Tá bom, vou começar o meu trabalho também, meu salário não se ganha sozinho, infelizmente.
Após quatro horas de relatórios, requisições e outros elementos burocráticos, Eduardo sai junto com Sandra para o almoço, sempre almoça em um boteco antigo dois quarteirões rua abaixo, Sérgio almoça no trabalho, prefere assim. Caio não apareceu para trabalhar.
Sandra e Eduardo caminham até o bar/restaurante, vão conversando distraídos, Sandra conta sobre o cotidiano, Eduardo ouve e concorda ocasionalmente, nunca foi bom em conversas casuais, nunca sabe o que responder, só concorda e escuta por convenção social. Vão descendo a rua até que uma aglomeração na esquina chama a atenção, em frente à uma casa antiga abandonada há viaturas, uma ambulância e uma multidão de curiosos, Eduardo e Sandra se juntam movidos pela curiosidade que habita toda a alma humana, Segundo um dos curiosos, um corpo foi encontrado por um viciado em crack que ia usar a casa como abrigo, e que em um ato de admirável lucidez contatou a policia, mesmo do lado de fora o cheiro da morte consegue atingir a todos, os paramédicos retiram da casa, deitado em uma maca um corpo coberto por uma mortalha, o sangue do corpo mancha o tecido branco puro, Sandra vira o rosto para não ver a cena macabra, Eduardo permanece atento quando o corpo passa mais perto, ele sente um leve arrepio, não é medo, é excitação, um dos paramédicos, atuando naquele momento no seu primeiro dia de emprego, se atrapalha e tropeça, tenta se segurar na maca, ambos caem ao chão, o corpo rola para deitado de bruços no meio da rua, a multidão se abre, ninguém quer tocar o morto, Sandra tenta puxar Eduardo, que ir embora dali mas esse se livra dos braços da outra e caminha sem pensar, movido por outra consciência que não é a dele seu corpo se agacha ao lado do cadáver, seu braço se estende, o rosto do morto está virado para o asfalto, Eduardo precisa ver o rosto, ou alguma parte dele pensa assim, Sandra chama mas a sua voz parece distante, e se perde em algum ponto da sua mente, tudo que Eduardo escuta é a própria voz ordenando que faça, que veja, Eduardo vira lentamente o corpo, seus olhos esperam apreensivos e finalmente focam no rosto do morto e em seu próprio rosto se forma uma expressão estranha, como se ele tivesse tentado rir e gritar de horror ao mesmo tempo, Eduardo subitamente levanta, olha ao redor, e começa a rir descontroladamente, histericamente, e logo em seguida desmaia, Sandra corre para socorrê-lo, alguns paramédicos também, o morto continua no asfalto, com o rosto virado para o céu, os olhos abertos, cravados, arregalados pelo medo, e sobre seu peito uma plaquinha de plástico branco, escrita com sangue uma única palavra, “Quem?”