quinta-feira, dezembro 23, 2010

Por trás do espelho Capitulo 1 parte 3

Eduardo já caminha apressado na rua, as suas pernas vão seguindo o caminho habitual até a parada de ônibus, a sua mente continua no quarto, mais especificamente, na fotografia horrenda que acabara de ver, segue esbarrando nas pessoas, elas se viram, indignadas, gritam para o nada palavras pouco amigáveis mas ele não as ouve, não as vê, não percebe o mundo, caminha somente por instinto, tudo o que ele vê é o homem morto com uma faca na cabeça e a boca macabra aberta, Eduardo quase consegue ouvir o ultimo grito do homem, é quase como o ultimo som que um animal faz ao morrer, a ultima tentativa de se agarrar a vida.
-Animal...? Era um homem... Uma pessoa...
Claro, era uma pessoa, um ser humano, que provavelmente tinha família, esposa, filhos, tios e primos, era uma pessoa normal, como aquelas ali na rua, como aquela velha que sempre fica à espreita na janela observando os passos de todos, que é quase como um fantasma, nunca sai à rua, vive a vida escondidas, mas mesmo assim ninguém merece morrer, ainda mais daquele jeito, sozinho, torturado, que monstro faz aquilo com uma pessoa? Que tipo de pessoa pensa que é uma boa idéia matar outra? E quem foi o louco que pensa que é uma boa idéia mandar uma foto disso pra outras pessoas, o mundo é cheio de gente louca, alguém pensou que seria engraçado mandar a imagem de um cadáver pra outra pessoa, foi isso, algum pateta mandou as imagens, alguem do trabalho, da turma da faculdade, foi isso, o numero de quem enviou era desconhecido mas conheço tanta gente, foi algum otário, foi isso, claro, brincadeira idiota.
-Estupidez
Foi provavelmente coisa do Caio, ele que gosta dessas coisas, fica matando tempo no trabalho vendo coisas bizarras na internet, maluco, por isso as pessoas evitam ele, almoça sozinho sempre.
-Cara estranho …
Quando chega ao ponto de ônibus Eduardo é outro homem, esqueceu-se da foto, do medo, só lembra que tem que ir para o trabalho, a lembrança o deprime, Eduardo é técnico de informática em um grande banco, passa a maior parte do seu dia resolvendo problemas que qualquer nerd com espinhas no rosto resolveria em trinta segundos, ele odeia o emprego, considera seus colegas idiotas hipócritas, mas por algum motivo desconhecido nunca pensou em se demitir, seu subconsciente pensa que
é uma boa idéia mante-lo, e Eduardo obedece.
Eduardo faz o mesmo percurso quase diariamente a três anos, pega o ônibus com poucas pessoas, senta-se ao fundo, encontra as mesmas pessoas sempre, mas nunca dirigiu a palavra a nenhuma delas, só se senta e observa. A moça vestida de secretária de alguma grande empresa, cabelo castanho preso em um coque apertado, cara de poucos amigos, passa a viagem toda revendo anotações e consultando a agenda, que durante a noite deve ser mais interessante por que estranhamente tem arranhões nas costas, um hematoma no pescoço que indica um beijo mais selvagem e uma tatuagem tribal no tornozelo esquerdo que a meia calça não consegue esconder. O velho que se finge cego, usa bengala, óculos escuros e anda a cidade toda pedindo dinheiro, mas que quando “vê” uma mulher com seios mais protuberantes passar por ele tira os óculos para ver melhor e o motorista do ônibus, que é divorciado, tem a branca da marca da aliança no dedo anelar esquerdo, diabético por que tem marcas de agulhas no braço direito e não tem os sinais de um viciado em heroína ou qualquer outra droga injetável e canhoto pois o lado direito do seu rosto esta sempre mais barbeado que o esquerdo, Eduardo se diverte alizando estranhos, racionalizando suas ações, focando em detalhes e descobrindo sobre essas pessoas sem precisar falar com elas, é uma brincadeira interessante, mas para Eduardo não passa de uma brincadeira.

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