terça-feira, outubro 26, 2010

O menino e a Vó que foi feliz

Calígula deixou cair as moedas.

Com o barulho Vó Turdinha que dormia reclamou.

Falou engraçado, meio que balbuciou., tossiu um tanto e gruniu.

-Rhumm....

Mas não acordou, deu um ronco fraco e se virou para o outro lado.

Calígula ficou de quatro como um gato e se apressou em recolher os trocados. 

-1...2...4...5...1...

Aquelas moedas Calígula conseguiu suado fazendo os malabares no coreto da praça onze, parecia artista, desses de circo quando apanhava as bolinhas, quando as jogava no ar, alguns velhinhos, aos casais, riam e se compadeciam, foram eles os ex-proprietários dos trocados  de Calígula, outrora caídos, agora juntados.

Depois de recolher tudo e de tudo ter recontado, o menino separou um bocado, para o pão de todos os dias e um bocado menor para o cofre em lata de óleo improvisado

-Um, Dois, Três... 

Calígula foi contado o economizado, já tinha pra mais de dez cruzados, mas não sabia ao certo quanto, pois só até dez contar sabia

Calígula nunca pode estudar
Só sabia o que aprendeu com Vó Turdinha
Calígula só sabia trabalhar

Todo o dia ele saía, todo o dia era Calígula quem acordava o sol
Saia para o mundo
Andava mais do que um menino deveria
e voltava quando a noite já sonhava
para uma adormecida e adoentada Vó Turdinha

Vó Turdinha era adoentada, já tinha vivido pra muito além da vida, sempre explorada, sempre exaurida, mas sempre querendo sua criança protegida, agora era Calígula quem a protegia, agora era ele que tinha que se explorar. 

No outro dia, Calígula acordou cedo e saiu pra mais um dia, foi atrás do sustento, como em todos os outros respirou um momento, olhando o sol que nascia e partiu, fez o percurso normal pelos sinais, fazendo os malabares que sabia, parou pra comer uma média fria, e seguiu para a praça da marinha, lá os negócios eram melhores, e a concorrência era pouca, talvez pudesse ser naquele dia.

Depois do trabalho feito, já de volta ao barraco onde residia, Calígula juntava o resto do dinheiro ao do cofrinho e conferia

-Acho que dá....- Sussurrou para si -Acho que dá!- e foi dormir sorrindo

 O sol já estava indo, foi que Calígula achou de acordar, saiu correndo á bilheteria, aquela que armaram lá no centro, e comprou dos bilhetes, para o show noturno, correu de volta pra casa, pegou sua melhor roupinha, ajudou a andar a Vó Turdinha e juntos foram rumando

Quando ouviu o ruído do povo rindo e rindo, Vó Turdinha abriu sorriso que só não era maior que a lona do circo, mas que era mais bonito que o luar,o circo era gigante, lona em amarelo berrante e tinha gente de todo o laço, lá tinha palhaço, tinha trapezista, tinha malabares, tinha bailarina, tinha anão gigante tinha adulto infante, tinha tinha tanto artista que era difícil acreditar, era uma alegria crescente no rosto de toda a gente, era uma felicidade pulsante, e Vó Turdinha a todo o instante não conseguia nem piscar, gargalhou como a menina que nunca foi, parecia que nunca ia adoecer novamente, mas como todo a estrela cadente, uma hora o brilho acaba, o show se foi e os dois voltaram ao barraco

De volta á cama improvisada de caixas de frutas Vó Turdinha já adormecida ainda deu uma risada, e dormiu como passou a noite, sorrindo.

Calígula do seu canto do barraco, se sentia cansado, mas pensando coisas tão bonitas que não se diz, lembrando de todo aquele espetáculo, do sorriso da velhinha que dormia, e mesmo que não fizesse isso nunca outra vez nem em um século, mesmo que aquela velhinha pudesse nunca mais voltar ao circo e ao tablado, ao menos agora sabia como era ser feliz.




Um comentário:

  1. Olá Erickson!
    Adorei o novo layout do blog, mt bom! *-*
    "Quando ouviu o ruído do povo rindo e rindo, Vó Turdinha abriu sorriso que só não era maior que a lona do circo, mas que era mais bonito que o luar" Perfeito, como sempre!

    ResponderExcluir